Logo após John Textor publicar um longo texto rebatendo as acusações do jornalista Lúcio de Castro que classificou como “campanha maliciosa” e “difamação”, o profissional publicou um artigo em resposta. Confira abaixo a íntegra, no portal “ICL“.
Diante das acusações de Textor, o ICL Notícias abre espaço para a defesa do jornalista Lúcio de Castro
John Textor publicou em suas redes um texto abordando a série de reportagens “Os segredos de Textor”, de minha autoria, publicada no ICL Notícias.
Desde a primeira linha, o texto é uma sucessão de tentativas de desqualificação do mensageiro. Tal desqualificação tem como ponto central enfatizar o time para qual torço.
Nada está à toa ali ou impensado. Tem método. Em sua resposta, se dirige ao “torcedor do Flamengo e jornalista Sr Lúcio de Castro”. Estando a qualificação de “torcedor” à frente do ofício.
Hábil comunicador, mais do que responder, deixa claro que o importante é mobilizar o seu público tão somente, muito mais do que a verdade.
O ato é desrespeitoso, desonesto e vil. Os anos de carreira, história e reconhecimento, não apenas no Brasil mas como no exterior, com diversas premiações entre as mais importantes e relevantes do mundo, palestras e permanentes convites para congressos em diversos países, falam mais do que a virulência inconsequente de Textor.
Como paladino da moralidade imbuído do papel de chegar ao Terceiro Mundo e estabelecer a ordem e a moralidade, afirma explicitamente que “escolheu desafiar forças poderosas no Brasil, melhorar os padrões de governança e acabar com as práticas de corrupção”.
E prossegue suas insinuações e tentativas de desqualificação do mensageiro, situando como “torcedor emocional e fanático do Flamengo”. E vai mais longe ao citar eventual motivação vinda de “lugar mais obscuro”. Ou ainda novamente insinuar que “a motivação para essa escolha limitadora de carreira pode nunca ser conhecida”.
Bastaria consultar o histórico de reportagens do profissional sobre o próprio Flamengo e suas mazelas, que não poucas vezes resultaram em processos. Assim como da própria CBF. A última sobre esta instituição ainda em janeiro do corrente ano.
Mas aqui Textor repete rigorosamente a mesma prática que se transformou em sua marca mais conhecida desde a chegada: acusações sem provas.
O mesmo Textor que apontou o dedo para um país todo, e agora vemos afirmar com todas as letras, “numa cruzada pública contra a corrupção”. Sem no entanto, jamais apresentar uma prova concreta. Da mesma forma que acusou equipes, profissionais e instituições, agora acusa, novamente, um profissional respeitado.
Novamente sem qualquer prova.
É tamanha a desfaçatez e certeza de que pode falar qualquer coisa sem qualquer sustentação na verdade, que afirma que a reportagem foi publicada “sem alertar nenhuma das pessoas de relações públicas na organização do Sr. Textor de que tal exposição estava em preparação — prova positiva de que o Sr. de Castro tinha intenção maliciosa”. O que, evidentemente chega a ser risível e nem mereceria maiores considerações, já que, durante grande período de tempo, desde o dia 18 de julho, enviei questões e procurei respostas para os questionamentos da reportagem por diferentes caminhos, países, línguas e empresas, seja através da assessoria de comunicação da SAF Botafogo ou da Eagle Holdings. Em repetidas vezes. Sem jamais ter resposta. Mais uma vez, Textor mente. Uma mentira tão frágil que deixa claro que para ele importa é jogar no ar, sem qualquer lastro. Como faz por aqui.
Por fim, ao abordar temas relatados nas reportagens, Textor novamente distorce o conteúdo publicado. E mente. Como em relação a história da Digital Domain, relatada na primeira reportagem. Sem perceber se enrolar nas próprias mentiras, Textor beira a indigência ao se contradizer sobre os fatos citados por mim.
Em um primeiro momento, a defesa de Textor afirma que eu “percebo” o acordo feito no processo em questão, do estado da Flórida contra Textor. (“quando o Sr. de Castro percebeu que tal processo terminou com o autor (que fez tais alegações falsas) tendo que pagar quase US$ 10 milhões em dinheiro para mim, e ainda mais em ativos, o Sr. de Castro tentou sugerir que eu enganei o sistema, de forma antiética, e “fiquei ainda mais rico”.).
Para logo abaixo afirmar que cito a história “sem relatar o resultado final”. Ou seja, relatar o acordo que, três parágrafos antes, ele dizia que eu “percebia”.
Para formular acusações assim, repletas de mentiras e contradições, se contradizendo três parágrafos abaixo, talvez tivesse sido melhor mesmo seguir a prática de acusar baseando-se em relatórios de inteligência artificial.
Obviamente, como Textor mesmo reconhece, nossa reportagem é incisiva quanto a existência do acordo final na Justiça, reproduzindo inclusive o trecho do editorial do jornal de Palm Beach na ocasião do acordo. “Talvez isso, em poucas palavras, seja o grande problema aqui. Empresários experientes em Wall Street, como Textor, manipulam o sistema e acrescentam ao fardo financeiro dos contribuintes, então saem com contas bancárias muito bem recheadas.”
Mas com polêmicas e mentiras como tais, Textor muda o foco do que é a reportagem.
É notório ainda que, por mais que Textor ou qualquer um queira distorcer, tal primeira reportagem não tem em seu foco principal processos na Justiça. E sim o relato dos quase US$ 100 milhões que Textor obteve de subsídios do estado e que se esvaíram em meio a promessa de transformar a Flórida na “Hollywood do Oriente”. Dinheiro público. Paralelo a uma transferência de recursos de uma empresa do seu grupo para outra. E aqui chegamos ao ponto primordial que justifica uma reportagem, e não as ilações de Textor ao medir alguém por sua régua. Conhecer o passado para compreender o presente, como ensinou Heródoto. Mais do que pertinente no momento, no qual, como mostra a reportagem, em que acontecem transferências de recursos e empréstimos de uma empresa para outra em sua rede de clubes pelo mundo.
Em sua resposta, Textor ignora o ponto primordial da reportagem: a descrição detalhada da (não) destinação desses quase US$ 100 milhões em subsídios estatais. E outros fatos citados, como a porta giratória de deputados que o beneficiaram em suas decisões para o conselho de suas empresas ou que aparecem, em documentos obtidos pela reportagem, em transações com a empresa. Para alguém que tem a pretensão de “acabar com a corrupção de um país”, seria de bom tom explicar no lugar de se apegar ao time de preferência do repórter.
Em suas distorções em relação ao que está na reportagem, Textor cita a fusão Facebank/FuboTV, contada na terceira reportagem, e novamente distorce o ponto central, destacado como tal e que toma a maior parte da reportagem: amparado em farta e reproduzida documentação, mostramos os processos e parceiros na concessão de US$ 100 milhões de linha de crédito. Quem eram, a quem estavam ligados.
Detalhando com riqueza quem eram esses parceiros e suas conexões, as modificações nas empresas, até a desistência desse crédito.
Por fim, em meio ao cipoal de distorções e inverdades da resposta, Textor cita “tentativa de vincular o Sr. Textor a pessoas russas nefastas”. O “nefastas” é por conta da verborragia de Textor. Nossa reportagem apenas relata a ampla rede de relações de um parceiro onipresente em negócios de Textor nos últimos anos. Um escrutínio que alguém com negócios de interesse público e que mobiliza a paixão de milhões deveria saber ser obrigatório. A relação de Textor com o banqueiro russo Sergey Skaterschikov, presente em vários negócios e também nos investimentos no futebol, foi confirmada pela reportagem em questionamento a empresa do próprio, que, ao contrário de Textor, respondeu.
Curiosamente, Textor afirma sobre ele que “acredita ser uma boa pessoa”. Mas embora mantenha tantos vínculos, “não tem conhecimento de todo o seu passado”.
Em momento algum, ao contrário do que Textor tenta insinuar, a reportagem faz qualquer julgamento sobre o banqueiro russo ou sobre qualquer pessoa de origem russa, como faz apelativamente e com intuito de tirar o foco insinua.
Apenas enumeramos os tantos fatos que unem o banqueiro a oligarcas russos. Em laços de extrema confiança e proximidade, como está na quarta reportagem. Desde sociedades em clubes de investimento em artes a cargos em empresas estratégicas daquele país comandadas pelos citados.
Repetindo a estratégia já vista por aqui de apenas tentar jogar lama e acusar sem qualquer prova e sem mesmo sustentação em fatos que estão à disposição, Textor mostra sua falta de compromisso com qualquer verdade ao afirmar, sobre a quarta reportagem e sobre Alexander Studhalter, que “O Sr. de Castro apenas joga lama, neste caso, pois não tem evidências de que Textor já tenha conhecido ou tido algo a ver com o Sr. Studhalter. Na verdade, o Sr. Textor não tem nenhuma conexão com o Sr. Studhalter, que é apenas um investidor em um dos negócios do Sr. Burgener. O Sr. Castro também deixou de mencionar que o Sr. Studhalter (seja ele quem for) se removeu com sucesso da “lista de sanções”.
De novo, Textor mente. De forma contumaz. Se ao menos tivesse intenção de ser fiel a verdade minimamente, iria ler na reportagem exatamente o contrário, como está informado na mesma:
“Em 10 de junho de 2024, a sanção da OFAC contra Studhalter foi suspensa”.
A reportagem também em momento algum se refere ou quis saber se Textor conheceu Studhalter. Mas Textor estrategicamente falta com a verdade ao dizer que Studhalter, preso anteriormente por seus negócios com o oligarca Suleiman Kerimov, senador da república russa do Daguestão, intimamente ligado a Vladimir Putin, “é apenas um investidor em um dos negócios do Sr Burgener”, ao qual Textor, como ele mesmo conta, se “reuniram amigavelmente no Facebank/fuboTV”.
Não era um “simples investidor”. Era sócio majoritário. Como está corretamente na quarta reportagem e lastreada em documentação:
“Em dezembro de 2022, Studhalter era o sócio majoritário com 27,38% das ações da HLEE através da “Swiss International Ivestment Portfolio AG. Seguido por Bernhard Burgener, então com 18,50%. Com as sanções, no papel, em 31 de dezembro de 2023, Studhalter caiu para 19,99% e Burgener foi para 23,53%.
A redução se deu após as sanções, como a própria HLEE informou aos investidores.
São muitas as propositais distorções de Textor nas respostas. Tamanho é o nível de falsidades ali descritas na resposta, que poderíamos enumerar outras tantas.
Com a mesma régua de quem se arvora a chegar em um país e apontar o dedo para todos sem qualquer prova, e acusa os outros de interesses escusos novamente sem provas, mesmo diante de histórias de vida e carreira sem qualquer mácula, Textor, como vimos, fala a verdade em apenas um momento.
Ao afirmar que “o Sr. de Castro tem uma reputação confiável, tanto quanto qualquer repórter investigativo excessivamente zeloso pode ter”. E comete o mesmo erro de todos os poderosos ao achar que determinará o tempo e a trajetória de alguém com tal história.
Seguiremos. Tendo como único interesse, o mesmo de uma vida toda, a principal e maior razão desse ofício: a defesa inegociável do interesse público. Sem se dobrar a qualquer tentativa de intimidação.
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