Em meio às denúncias de John Textor, do Botafogo, sobre manipulação de resultados no futebol brasileiro, a colunista Milly Lacombe se manifestou. Em coluna no “UOL“, a jornalista disparou contra o empresário norte-americano. Leia parte da coluna abaixo.
Que um time tenha dono já é absurdo sobre o qual deveríamos nos revoltar. Mas parece que já naturalizamos a aberração. O estadunidense John Textor é o dono do glorioso Botafogo e está, desde o final do ano passado, inconformado com o fracasso de seu time no Brasileirão. Quer achar os culpados portanto. Está atrás dos responsáveis pelo cinematográfico malogro.
Textor vinha dizendo que tinha provas a respeito de resultados suspeitos e de jogos que teriam sido entregues por jogadores rivais e essa semana revelou do que falava: segundo pesquisas alimentadas por IA, alguns de seus concorrentes teriam feito corpo mole em determinados jogos.
O CEO foi buscar com a inteligência artificial explicações para a derrocada botafoguense. Então focou nos adversários e foi aí que ele errou. Se tivesse prestado atenção apenas ao jogo contra o Palmeiras, naquela virada histórica dentro do Nilton Santos, saberia que seu time estava emocionalmente abalado e que o resultado improvável deixou o elenco ainda mais destroçado. Um bom líder teria, naquele momento, montado uma sala de controle para lidar com a emergência e o risco de fato. Nada estava perdido, mas os sinais se faziam presentes.
(…)
Para Textor é impossível que um jogador caia de produção, tenha um dia ruim ou esteja desmotivado. Atleta é máquina e a baixa performance de alguns rivais em alguns jogos provaria que houve manipulação segundo a IA. Ele usa de lógica alimentada pela matriz dos esportes estadunidenses, onde tudo é métrica e estatística. Não vai dar certo usar essa matriz para interpretar nosso futebol e Textor certamente alimentará sua paranoia se for por aí.
Futebol acontece no universo das coisas subjetivas, ainda que estejam tentando tirá-lo de lá. Não adianta vir com números, dados, projeções milimétricas e achar que é apenas isso. Não funciona aqui, graças a Deus.
Seria interessante perguntar ao recurso da IA por que o Botafogo sofreu quatro gols em 45 minutos contra o Palmeiras. Por que perdeu vexatoriamente para o Grêmio logo depois. Por que não se manteve minimamente focado e desandou de forma arrebatadora?
O bom líder olha para dentro a fim de analisar fracassos. O líder paranoico olha para fora. Textor não vai mudar o futebol. Aliás, eria bonito se o futebol mudasse o CEO. Eu cheguei a acreditar que isso aconteceria. Mas já estou duvidando da possibilidade.
Entenda
Nesta segunda, 1, John Textor afirmou ter “provas de que o Palmeiras vem sendo beneficiado por dois anos”. Pouco depois, divulgou uma nota com novas acusações. Desta vez, afirmou que pelo menos cinco jogadores do São Paulo manipularam a goleada sofrida pela equipe por 5 a 0 diante do rival Palmeiras, no Brasileirão de 2023. Apesar das denúncias, o mandatário do Alvinegro não apresentou nem uma prova até o momento.
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