

O Botafogo começou o clássico contra o Fluminense com uma novidade surpreendente: Mastriani titular ao lado de Igor Jesus. Com isso, Artur perdeu a vaga e iniciou como opção no banco. Após a partida, Renato Paiva explicou o que pretendia com o time que iniciou o jogo deste sábado e reencontrou o melhor futebol da equipe.
— Jogadores interpretaram muito bem a ideia, fizeram um jogo fantástico. Alguns deles levaram ao seu limite físico. O que eu pretendia [com a escalação] era tentar surpreender o Renato e o esquema do Fluminense e combater de fato o nosso cansaço. E além disso tentarmos não sermos previsíveis com as mesmas peças – admitiu.

Mais respostas de Renato Paiva
Motivação com pressão
— Se há uma coisa que eu tenho é um enorme respeito e admiração pela torcida. Não há nenhuma torcida do mundo que esteja satisfeita quando não se ganha. Se eu fizer o meu trabalho em função disso, não posso ser treinador de futebol. Estamos tão insatisfeitos quanto eles. O importante é que eles apoiem os jogadores.
Favoritismo do Botafogo
— Eu não conheço nenhum campeão nacional que não corre como favorito. Lamento. E às vezes há pessoas que dizem: “ah não, ele está a tirar (a pressão)”. Na hora de dizer, “não, não somos favoritos, vamos tirar a pressão”. Estes rapazes têm que sentir favoritos e ponto. Depois podem ganhar ou não, podem jogar melhor ou jogar pior. Mas depois do que fizeram, não podem e não devem e não querem (não ser favoritos).
— Eles querem ser favoritos, eles querem jogar para ganhar e não querem ser vencidos. Porque sentiram o sabor do que é ganhar. E ganhar da forma como ganharam. Portanto, vamos correr como favoritos. Que o início não foi bom? Não. Mas falta tanto tempo de trabalho, faltam tantas rodadas. Às vezes pedem decisões com cinco, seis rodadas… Estamos conscientes do que está a acontecer, mas é (preferir ser) claramente favoritos. Ninguém vai aqui correr por fora. Se eu aqui dissesse que não, eles (jogadores) iam protestar comigo. Tanto é que eu não conheci um campeão que não seja o favorito no campeonato a seguir. É isso que nós vamos ser.
Vitória magra
— Acho que mais uma vez jogamos para ter outro resultado, por méritos, mais elástico. No primeiro tempo, merecíamos ter saído por mais de um gol ou mais do que dois. Com todo respeito ao Fluminense, mas estou avaliando o que a minha equipe fez em termos ofensivos. E o que fez em termos defensivos porque o Fluminense nem sequer foi no gol no primeiro tempo. Portanto, é esta compactação que eu quero que a equipe tenha. Às vezes não consegue, às vezes consegue… E depois deste grande primeiro tempo, que eu gostei muito pela dinâmica ofensiva, pela pela pressão mais em cima, de conquistar bolas na saída do Fluminense, ter boa relação à perda da bola, o que não é fácil com jogos de três em três dias. Ainda mais contra adversário fresco, que nem viajou – observou o técnico.
Atuação próxima ao ideal
— Não baixamos porque queremos, baixamos porque o adversário tem méritos e nos obriga. O tempo foi passando e, pode parecer que não, mas os jogadores são humanos e começa a vir o fantasma do 1 a 0, 1 a 0, 1 a 0 e tu não marcas, 1 a 0 e tu não marcas e depois, de repente, começa a pensar se vai ter algum erro e o adversário empata. É o histórico recente dos últimos jogos. Mas a equipe esteve muito bem, o Fluminense não teve grandes oportunidades, fora uma bola na trave, mas acho que é uma vitória justa e, com todo respeito, repito, uma vitória curta em relação a números, mas já muito próxima daquilo que queremos que a equipe faça em termos ofensivos e defensivos.
Igor Jesus e Mastriani juntos
— Temos que analisar o contexto do jogo, e o que me preocupava é que o Fluminense ficou descansado durante a semana, não jogou e não viajou. E eu, estando com minha equipe não tão descansada, senti que mudando algumas dinâmicas mesmo com pouco tempo para treinar, poderia surpreender o Fluminense e combater esse cansaco com essa mudança tática. Mastriani foi contratado para isso, não foi para substituir o Igor, mas para poder jogar os dois também, assim como Rwan e Elias. Então foi isso, surpreender um pouco o adversário e ver que a mobiliade do Igor, que é tão boa, mas que o prejudica em outras.
— Hoje deixamos o Igor um pouco mais solto e alguém ali a fixar os zagueiros adversários nas dinâmicas do jogo. Jogadors interpretaram muito bem, fizeram um jogo fantástico. Alguns deles elevaram seus limites físicos ao limite. O que queria era essa surpresa, tentar surpreender o Renato, e combater o nosso cansaço. E também é o plano B para não sermos sempre previsíveis e descansar alguns jogadores, no caso de hoje foi o Artur.
Pressão da torcida
— Se há uma coisa que tenho enorme respeito e admiração é pela torcida. Não há nenhuma torcida do mundo que esteja satisfeita quando não se ganha. Nem torcida, nem treinador, nem jogadores, nem diretores. Ninguém está satisfeito. Se eu fizer meu trabalho em função disso, não posso ser treinador de futebol. Estamos tão insatisfeitos quanto a torcida. O Renato aqui é o menos importante. O que importa é que a torcida apoie aos jogadores. Se eu pedisse algo, seria esse apoio nos 90 minutos.
— No intervalo pode manifestar-se, no final (também). Renato está preparado para essas coisas, tem 54 anos, 23 ou 24 anos de futebol e está preparado para essas coisas. Está descontente também, mas também sente. E eu tinha dito aos meus jogadores que uma exibição como essa poderia acontecer em qualquer momento porque nós não fomos amassados por ninguém nas derrotas, não perdemos de goleada. Portanto andávamos no detalhe, nos jogos que não aproveitávamos os adversários e eles aproveitavam os nossos. Gera descontentamento, obviamente, mas a torcida quer ver sua equipe ganhar e meu trabalho é ver como estamos e manter o equilíbrio.
— Sou responsável. Tenho imenso respeito por eles, foram muito importantes hoje. No momento em que estávamos em sofrimento de 1 a 0 e eles ali não pararam de cantar. E é isso que eu peço. Por favor, apoiem os jogadores 90 e muitos minutos. Cobrar é normal.
Reformulação no elenco 2024 x 2025
— Perdemos jogadores e ganhamos jogadores. Jogadores saíram e jogadores entraram. É simples. E o Botafogo do ano passado não era só Luiz Henrique e Almada. Saíram 14 jogadores, muitos jogadores. É um Botafogo novo com uma espinha dorsal dos 11 iniciais que aqui ficaram. Maior parte estão aqui. Depois tem as segundas linhas. Adaptação, conhecer colegas, que vieram de outros campeonatos e vamos aos poucos fazer esses jogadores evoluírem. Imensamente orgulhoso de estar nesse clube com esses profissionais. Tivemos um mês para trabalhar, ainda bem, se não seria muito pior. As derrotas não seriam nos detalhes, mas de outra forma e não tem sido.
— Agora é ir acertando enquanto se pode. Eu não consigo jogar no passado porque não estava aqui. Me diverti muito vendo o Botafogo do Artur Jorge e do Luis Castro, mas é passado, já não existe. O que existe é esse. Apoiar esse e trazer resultados e exibições com esses jogadores.
Sequência de jogos
— Normalmente nos concentramos no cansaço físico. E o cansaço mais grave e mais perigoso é o cerebral. É aquele periférico. É aquele cansaço que permite tomar boas ou más decisões. E o jogo de futebol vive de boas e más decisões. E quem acerta mais normalmente ganha. Portanto, esse é o cansaço com o qual nós nos preocupamos muito. É um hábito desta realidade no Brasil e nós temos que, em vez de nos queixarmos, mas podemos pedir que mudem, mas a realidade é esta e portanto nós temos que trabalhar em cima disto. É recuperar os jogadores na parte física.
— Da parte mental é gerir a informação que tu tens que passar. Se tiver que fazer correções em cima daquilo que nós fazemos, sermos nós mesmos, o adversário é importante, o adversário tem nuances, nós às vezes queremos passar aos jogadores, mas às vezes, dentro desse cansaço que eles têm, passar mais informação, imagina como o jeito que tu ainda vais querer enfiar, colocar mais informação aqui e não dá, só vais fazer mal, então tens que ter gestão extraordinariamente difícil de fazer isto. Com um cansaço físico tu consegues colocar mais gelo, mais alongamento, um mental que é invisível e tu não consegues identificá-lo, mas não sabes que ele está lá.
— Então é esse tipo de trabalho que nós fazemos, gerindo essa informação, gerindo emoções. Trabalhar em cima de vitórias é diferente de trabalhar em cima da fase que nós vivíamos. Podem aparecer as dúvidas, podem aparecer as desconfianças e não aparecer nada. Mas este grupo de fato é fantástico, mesmo quando eles sabiam porquê que estavam a perder, estavam identificadíssimos. Eles acreditam neles próprios, pelos seus desempenhos, eles acreditam nos colegas, eles acreditam no trabalho que se está a fazer, essa que é a verdade. Eles quando dizem que compram ideia, que estão a perceber a nossa metodologia.
Evolução do time
— A verdade é que tenho que trabalhar em cima dos indicadores que as exibições me dão. Estava frustrado e triste pelos resultados que não chegaram, mas como eu disse aos jogadores: “calma porque, se houvesse muita coisa mal feita, teríamos que estar mais preocupados”. Queremos ganhar, podemos estar mais longe ou perto. Essa exibição poderia acontecer a qualquer momento, mas se vai continuar, não sei dizer. Sei que isso dá muita confiança. E tenho que viver em cima de jogadores para ver o que melhorar e trabalhar para esses indicadores sejam resgatados. São positivos. E a confiança volta ao vestiário do ganhador. Hoje é uma exibição muito próxima daquilo do que eu gosto e como eu vejo o jogo. Muita posse, mas posse com agressão à área, muitas finalizações, em especial no gol. Terminamos jogadas, reagimos à perda, recuperamos bolas. Às vezes não sai, mas os indicadores são positivos.
Jogo posicional
— Você não está representando todos os outros treinadores da Série A (risos). O jogo posicional se resume de forma muito simples. Zonas conquistadas em posse e zonas do campo ocupadas, não me interessa por quem. É isso que me interessa, exatamente para não ser estático. Porque se não tu começa 4-2-3-1 ou 4-4-2 e ali fica. E nós não queremos isso. E há zonas em que temos que ter ocupação para que os jogadores saibam de memória onde tem colegas. Porque com esse cansaço, quanto mais automatizado tu estiver, menos exige do cérebro, mais tem o mapa mental sobre onde estão os colegas. Quando a bola entra nesses zonas, se desenrolam dinâmicas em função das linhas de passe e isso acontece por causa da ocupação das zonas. Este é o jogo posicional.
Savarino livre em campo
— Fomos profundos com um lado com Matheus (direito) e por outro lado com Cuiabano (esquerdo). E na tal confusão do Savarino sobre jogar como 10 ou não, ele joga livre. Savarino joga livre e ponto. Savarino é o único que não tem que ocupar essas zonas. Desbloqueia jogo, joga livre. Não posso prender o Savarino em sistemas táticos, a não ser para missões defensivas. Quando Savarino joga de ponta, mas por dentro. E isso foi uma crítica que se faz a minha forma de trabalhar. Primeira oportunidade do jogo contra o Estudiantes, que Artur cabeceou, sabe quem cruzou? Savarino. Sabe onde ele estava? Na esquerda, aberto. Não pode prender o Savarino. Tem que deixar andar, e a equipe depois faz o resto. É um 10, criativo, desbloqueador de jogo. Às vezes está por fora, não quer dizer que está como ponta. Importante é que jogue.
John
— De onde estiver, Manga nos ajudou bastante. Nos ajudou a inspirar estes jogadores. É um dia importante (do goleiro) e lembramos que era bom ganhar nesse momento porque o Manga nos deixou um legado muito grande no futebol brasileiro. Ficamos felizes em ganhar um clássico, oitava vitória sobre o Fluminense. Clássicos e finais não se jogam, ganham. E nós jogamos e ganhamos. Há uma coisa que é da sociedade é que muita gente não tem memória. De onde veio, como chegou, o que fizeram… E a memória é um valor importante da nossa vida, convém não nos esquercermos.
— E estou falando do John. Foi o mesmo que no jogo contra o Palmeiras, no fim, fez uma defesa extraordinária. Foi o mesmo que o ano passado foi determinante em vários jogos. Eu enquanto goleiro não vou tomar gol porque não jogo lá. Faz parte, os jogos estão sujeitos a uma pressão tremenda. E o goleiro tem um problema em relação aos outros que é grave: quando falha, é gol. O que fizemos foi acarinhar o John, sabemos bem quem ele é, o que representa ao grupo e para o futebol brasileiro. Não vamos, por um erro, crucificar ninguém porque ninguém é infalível, nem no futebol, nem na vida. John é mais um que vai fazer de tudo para ganhar.
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