Seedorf, ex-Botafogo, aponta racismo contra técnicos negros no futebol

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Seedorf racismo Botafogo
Foto: Ozan KOSE / AFP

Treinador desde a temporada 2013, Clarence Seedorf à beira do campo está longe das glórias alcançadas como jogador. Aos 44 anos, o holandês refletiu sobre os percalços na nova função. Em entrevista exclusiva ao ‘Goal‘, Seedorf revela racismo, principalmente na curta trajetória como técnico do Milan, em 2014, quando deixou o Botafogo.

Apesar disso, na equipe italiana fez o maior número de jogos como treinador até ser demitodo: 22. Depois, passou por Deportivo (16 jogos) e Seleção de Camarões, pela qual fez 12 partidas.

Para embasar seu argumento, Seedorf citou ex-jogadores, como Pep Guardiola, por exemplo, que tiveram mais oportunidades no início de carreira.

— (Pep) Guardiola não tinha muita experiência; quantos podemos considerar? (Fabio) Capello não tinha nenhuma experiência antes e (Andrea) Pirlo agora está treinando a Juventus. Você sabe que tem que haver igualdade de oportunidades para todos com o mesmo tipo de medida – disse.

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Veja os principais trechos da entrevista:

Houve arrependimento por ter aceitado a oportunidade tão cedo?

— Não, porque eu me senti pronto e também já provei com resultados e números que estou pronto. Infelizmente, o clube estava bastante instável naquele momento. Eles queriam vender e eu me tornei parte de um ambiente mais turbulento do que relacionado ao que eu fazia como treinador.

— Eu tinha a maior média de pontos dos últimos treinadores que o clube teve nos últimos anos e a maneira como jogávamos refletia o DNA do clube. Eu tirei o clube do quase rebaixamento para lutar por um lugar na Europa. Com o AC Milan, como treinador, fizemos um trabalho incrível em um momento de crise no clube.

Demissão no Milan

— Na verdade, eu tinha mais dois anos de contrato e o clube estava realmente em uma situação muito difícil. Depois de mim, o antigo dono teve outros três treinadores em duas temporadas, enquanto o Milan era conhecido por dar estabilidade a seus treinadores.

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— Apesar de ter chegado em um período muito turbulento e instável da história do clube, não pude dizer “não” quando fui chamado para ajudar. Fiquei muito satisfeito com o que consegui com o Milan e, como disse depois de mim, eles gastaram mais de 100 e 200 milhões de euros em jogadores. Apesar disso, nenhum desses treinadores que vieram depois fizeram um trabalho melhor do que eu.

— Portanto, acho que houve muitas questões extra-campo que não estavam diretamente relacionadas comigo e que custaram escolhas dos proprietários, que nem sempre são racionais, e acho que foi isso simplesmente o que aconteceu.

— Mas, como eu disse, você precisa de um pouco de sorte e isso com certeza não estava lá com a escolha que eles fizeram, mas espero que o Milan seja sempre meu clube, como o Real Madrid, como Sampdoria, Ajax, Botafogo, todos esses times pelos quais eu joguei, a Inter de Milão, porque todos eles me ajudaram a evoluir e me transformar nessa outra pessoa e o jogador que eu era, e o treinador que sou.

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Racismo no futebol

— São apenas os números. Não sou eu, isso está acontecendo e ainda vai acontecer por anos. Não só nos números, mas nas oportunidades. Porque você sabe que tem que haver igualdade de oportunidades para todos com o mesmo tipo de medida.

Tomemos meu exemplo. Se eu alcançar os pontos que alcancei e sou dispensado, os treinadores depois de mim fazem menos pontos e ficam o ano inteiro. Então você se pergunta: quais são os parâmetros, quais são os critérios? E também, para contratar os treinadores: qual é o seu critério?

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E como eu disse, não tem nada a ver comigo. Há números muito difíceis sobre quantos treinadores negros, gerentes negros estão em posições de liderança no futebol europeu, nas gerências dos clubes, nas federações, nos comitês, nas bancadas… O percentual é muito baixo, e tão baixo como 1% ou menos. Portanto, a diversidade que você vê em campo não se reflete nas bancadas e não se reflete na alta administração. Não se reflete na propriedade e em muitas coisas, então isso é algo que é a sociedade. No final, eu sempre disse que o futebol reflete o que está acontecendo na sociedade.

Essa é uma luta que temos travado durante toda nossa carreira, porque nem sempre podemos provar o que estou dizendo porque é um sistema, é um racismo sistemático e escolhas. E podemos ir ainda mais longe, agora estamos falando de treinadores e gerentes negros etc., mas é sobre a igualdade de todos, porque também há outras questões como as de gênero que ainda não estão no nível que deveriam estar, [embora] esteja melhorando.

Mas para focar especificamente nos jogadores negros que querem se tornar treinadores e as oportunidades que eles têm, isto não é para ser comparado, você pode ir para uma lista de jogadores que jogaram no meu nível e não [estão] tendo a oportunidade.

Seedorf racismo Botafogo
Seedorf deixou o Botafogo para assumir o Milan como treinador. Foto: Ozan KOSE / AFP

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Foto: Ozan KOSE / AFP

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Sobre Diego Mesquita 1556 Artigos
Botafoguense, 36 anos. Formado em Jornalismo pela FACHA (RJ), trabalhou como assessor de imprensa do Botafogo F.R em 2010. Hoje, é setorista independente.

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