Sérgio Manoel deseja trabalhar no Botafogo: ‘Só mandar passagem’

Loja Casual FC
Sérgio Manoel Botafogo

Campeão Brasileiro e ídolo do Botafogo, o meia Sérgio Manoel revelou que gostaria de voltar ao Clube. Neste domingo, 5, em entrevista ao Canal do TF, o ex-jogador disse que poderia contribuir dentro do vestiário, para dar a real dimensão do tamanho do Botafogo aos atletas.

— É só mandar a passagem. No Clube, eu teria que estar dentro do vestiário, estar no campo. Eu seria o cara que certamente iria fazer os atletas entenderem o que é ser Botafogo. Essa paixão que eu tenho pelo Clube. A experiência que eu tive de viver num momento tão difícil do Botafogo e ter conseguido ganhar, trazer para realidade hoje. Assim, seria o cara que não deixaria o vestiário ficar triste ou eufórico demais. Seria essa função que gostaria de exercer – avalia.

Leia também: Aprenda agora como ganhar dinheiro investindo em futebol

Botafoguense declarado, Sérgio Manoel criticou o momento atual do Clube e pontuou mudanças em caso de um eventual retorno.

— Eu mudaria a mentalidade. Hoje a gente fica feliz com muito pouco. Na minha época, por exemplo, eu me cobrava e eu fazia os meus amigos se cobrarem. Para entrar na competição só pensando em não cair, não condiz com o Clube. A gente perdeu um pouco isso nos últimos anos. O último time que ainda chegamos a ter alegria foi o do Cuca, que jogava bonito. Eu quero Copa do Brasil, Brasileiro, Libertadores. É isso que eu acho que está faltando. Quando eu subi no Santos, eu jogava com a 10 do Pelé. Você vai dizer que é pesada essa camisa? É do Rei do Futebol. Se eu fosse olhar pelo lado negativo, é de fato muito pesada. Mas por outro lado, se estão te dando essa condição, agarra a chance.

Leia também: Obi Mikel será jogador do Botafogo, diz imprensa africana

Mentalidade

— Hoje o que vejo no Botafogo é contentar com resultados que são bons, mas não para o Botafogo. A minha mentalidade é de um Clube grande, vencedor. Que entra em campo e é respeitado. Por isso fico louco aqui de ser cobrado como sou e não ter o que falar. Mas é preciso dar condição para o jogador. Eu teria dois ou três nomes de peso para dar suporte a um time jovem. Ter como temos hoje um treinador com Paulo Autuori. Pedir recomendações dele para contratar, pagar o que for possível, mas pagar. Eu tive com o Diego Souza aqui antes de ele sair do Botafogo, e falei com ele: Diego, quando você voltar lá, as costas que têm que levar porrada são as suas. Você já é caleijado.

Pelo Botafogo, Sérgio Manoel foi campeão brasileiro em 1995 e Rio-São Paulo em 1998.

Veja mais tópicos da entrevista:

Prioridades do Botafogo

— Dar atenção para base. Todo clube profissional, sobretudo hoje com a venda de jogadores, precisa ter a mentalidade de valorizar a base. Colocar na base jogadores com identificação com o Clube. Pra mim, não há dinheiro que pague eu ser reconhecido como Sérgio Manoel do Botafogo. Não quero ganhar dinheiro com o Clube que não seja trabalhando. Não uso o Clube para me aproveitar. Quando posto nas minhas redes sociais uma foto com a camisa é porque estou em casa torcendo. Se o Botafogo precisar de mim e me chamar para trabalhar, eu vou trabalhar. No entanto, não quero ir para ocupar espaço sem ajudar o Clube. Quero contribuir para fazer o Botafogo vitorioso como na época que eu jogava.

— Não estou satisfeito na história do Clube como ídolo por ter sido campeão brasileiro e não comemorar campeonato nacional. Eu quero brigar pela Libertadores, Mundial. Quero coisas grandes, à altura de Garrincha e Nilton Santos. Sempre mirei isso. Aliás, trabalhei ao lado de um cara que queria quebrar recorde todo dia, que era o Túlio. Ele fazia gol todo jogo. E eu queria dar mais assistência para ele fazer gol. Se a gente não tiver pessoas com essa ambição no Clube, de conhecer o peso e passar isso para os mais jovens, o jogador só vai ter o compromisso profissional. Os caras da minha época, que eu tenho referência, entendiam que o dinheiro era importante para o negócio, mas eles entendiam que se fizessem bem feito, a parte financeira era uma consequência.

— Hoje é buscar transformar o Clube numa S/A para que ele pudesse ter a gerência de profissionais, tivesse que dar lucro e planejamento. Inicialmente, teríamos que focar na base. Foi como falou o presidente do Flamengo há alguns anos: “vamos viver de cachorro quente por um tempo, para depois comer o churrasco”. Eles hoje são um modelo a ser seguido. Os bons exemplos estão aí para gente copiar. Podemos chegar no mesmo patamar de administração, conquistas. Sempre busco me equiparar com os que tão em cima. Hoje são o Flamengo e Palmeiras.

Histórias de Túlio

— O Túlio não fazia tanto gol em 1995 só porque ele era o goleador nato como ele sempre foi nos clubes. Mas é porque ele tinha atrás dele, eu, Beto, Donizete, Gottardo, Wagner empurrando ele. A gente não dava sossego pro Túlio.

Leia mais: Especialista vê clube-empresa com otimismo apesar do coronavírus

— Teve um jogo contra o Paysandu, por exemplo, que ele vinha com aquela fanfarronice de botar nomes nos gols. Aí o lateral direito do Paysandu era um cara chamado Garrinchinha. Um cara forte para caramba. Batia muito. Mas eu nunca fui de falar nada. Entrava para jogar. Aí no primeiro tempo ele me chegou no chão e falou: “fala para o teu amigo agora aí fazer o gol. Cadê o gol?”.

— Eu entrei no vestiário no intervalo, todo sujo porque tinha chovido, tive que trocar todo o uniforme. Fui procurar o Túlio, ele estava na frente do espelho passando gel e só as meias sujas. Aí fui no ombro dele e falei: “Maravilha, tu falou que ia fazer dois gols, botou nome nos gols, estou levando porrada há 45 minutos e está 0 a 0. E aí?”. Ele virou com aquela tranquilidade, e falou: “Manel, já acabou o jogo? Se já acabou, tu pode me cobrar. O jogo acabou 5 a 2. Ele fez 3. Foi o maior artilheiro que tive a honra e o prazer de jogar.

Como seria Túlio hoje?

— Se ele jogasse hoje, faria ainda mais gols. Ele era um cara extremamente frio dentro da área. Não tinha esse negócio de zero a zero, jogo de classificação. Ele era letal justamente pela frieza dele. Em alguns lances ele não fazia nem o simples. Ele ameaçava cortar, dava o tapa, cortava de novo e dava outro toque para fazer o gol. O Túlio, hoje, seria um cara extremamente valorizado e milionário. O cara que faz gol como ele hoje ia ganhar milhões por mês.

Racha com Túlio

— Era somente na questão de ponto de vista, opinião com diretoria das condições de trabalho. O Túlio era tranquilaço, não reclamava de treino. E fora de campo, nós queríamos que ele tivesse a mesma personalidade nossa de cobrar os dirigentes. Para o Túlio qualquer coisa estava bom. Nossa briga com ele era só quanto a isso. Porque ele era a estrela da companhia, o peso da palavra dele tinha outro peso. Tanto que Seven Up quando chega no Botafogo busca o Túlio. A empresa queria o cara que fazia gol. Mas a gente depois que amadureceu até conversou sobre isso. Na época estávamos no Volta Redonda. Ele me disse que não entendia muito, que estava tudo bem por estar no Botafogo.

Declínio de Túlio

— A saída dele para o Corinthians não foi acertada. De repente financeiramente foi bom para o Clube e para ele, mas tirou o foco de ídolo que a torcida tinha nele. E no retorno dele sentiu isso. Além disso, ele também tinha muitos compromissos extra-campo, por ser garoto-propaganda, que acabavam por tirá-lo de treinos. Aí o rendimento dele caiu. Acho que a queda dele acontece a partir daí. Porque o Túlio treinava muito.

Aproveitamento nas faltas

— Eu tinha parceria com os treinadores de goleiros. Acabava meu treino, ia ajudar no treinamento deles. Batendo na bola de várias maneiras para preparar os goleiros em cruzamentos. Isso dois dias na semana. Quando chegava na véspera de jogo, eu pedia uma força para os goleiros para treinar falta. E eles ficavam mais de uma hora comigo. Isso me levou a um estágio bem elevado.

Condicionamento físico do Botafogo

— Tem que avaliar o que está sendo feito de trabalho. O departamento todo. Há um estudo hoje muito grande. O Botafogo não joga tantas competições assim como outros clubes. Tem que ver as instalações do Clube. Hoje, na presença do Autuori e do Rene Weber, essa mudança vai acontecer. Tenho certeza que se derem espaço ao Autuori, ele vai organizar isso. Eu sou sempre a favor de ouvir fisiologista, médico e preparador e dividr responsabilidade. Agora a palavra final é sempre do jogador.

Montenegro e Autuori

— Tenho o maior carinho. O Montenegro eu tinha um papo com ele não só como presidente, mas como uma pessoa de total confiança. Por mais erros que eles tenham cometido em 1995, foi com o intuito de acertar. Montenegro é apaixonado. Fico feliz que tenham pessoas como eles no Clube. O Paulo Autuori se firmou no Brasil justamente com o trabalho no Botafogo. Ele ama futebol. Enfim, é um cara que vai chegar no vestiário e vai falar para o jogador algo sempre positivo.

Banalização de craque

— Banalizou o termo. Na minha época, por exemplo, as referências eram Zico, Rivelino, Sócrates, Maradona, Platini. Foi o que eu vi quando garoto. Esses caras eram craques. Para ser ídolo de um clube, você tem que ter atitude, tempo de casa, conquistas. A maioria dos jogadores escolhidos recentemente para o time da década, não jogaria no meu time.

Loco Abreu é ídolo?

— Ele certamente é uma figura diferente. A cavadinha do Flamengo. Ele foi personagem de uma época que o Botafogo jogava bonito. Resgatou no torcedor a esperança de ver o Clube vencedor novamente. Por isso, naquele período, é um ídolo, mas para história do Clube não sei se é suficiente. Então acho que ele pode ser um personagem marcante. Mas de repente não é um ídolo de gerações. Eu não encaixaria como ídolo.

Dodô

— Pra mim, o Dodô, pelos feitos dele, pelos números dele com o Botafogo, tem um espaço maior do que o Loco Abreu. É a minha visão de atleta, de torcedor do Botafogo. Enquanto tínhamos o Dodô, éramos dependentes do gol dele. Pena que a saída dele do Clube tenha sido daquela maneira.

Marcelo Benevenuto

— Gosto muito. Eu e meu filho Pedro, inclusive, temos a mesma opinião. O Marcelo é um cara que veio da base, que sempre se dedicou, se entrega. Joga simples. É um cara para ser trabalhado. Enfim, gosto muito dele porque acho que tem potencial para ser trabalhado ainda e tem um DNA nosso.

Veja a íntegra da entrevista:

Comentários

Sobre Diego Mesquita 1556 Artigos
Botafoguense, 36 anos. Formado em Jornalismo pela FACHA (RJ), trabalhou como assessor de imprensa do Botafogo F.R em 2010. Hoje, é setorista independente.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*