Montenegro compara Botafogo a paciente terminal: ‘Sem perspectiva’

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Montenegro Botafogo S/A
Ivo Gonzalez / Agência O Globo
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Montenegro traçou quadro preocupante do Botafogo. Ivo Gonzalez / Agência O Globo

Em entrevista à Rádio Brasil, Carlos Augusto Montenegro, integrante do cômite de transição do Botafogo, comentou a situação delicada pela qual passa o Clube e explicou a permanência de Alberto Valentim e Anderson Barros.

— Decisão super simples, porque ambos os profissionais têm contrato e conhecem bem o Botafogo. Além disso, eles têm um salário relativamente menor ao que se pratica no mercado. E nós estamos num período de transição. É importante a torcida entender, e eu acho que mereço um voto de confiança da torcida, e dentro do quadro terrível que foi esse ano. Um ano que todo alvinegro gostaria e deve esquecer. Uma temporada que passou longe das nossas tradições.

No papo, Montenegro traçou um cenário terminal para o Botafogo e disse esperar por investidores para reverter o quadro.

Futuro do Botafogo

— O desenho para 2020, até agora, é pior. O Botafogo é um paciente que está moribundo, na UTI, ligado por fios. A máquina está funcionando, mas ele não consegue se mover mais sozinho. A gente está tentando monitorar a máquina. Não tem dinheiro. Não tem nada. Não é porque o campeonato terminou ontem que tudo ia virar uma ilha da fantasia. Novos nomes, atletas. Continuamos com direito de imagem atrasado desde setembro. Várias folhas atrasadas, gratificações, fornecedores. Nós fizemos um comitê para manter esses aparelhos ligados. Só isso. Até quando? Não sei. Até quando aparecer um investidor. Tem um outro grupo procurando investidores. Tem várias pessoas sendo sondadas, fundos também. Tem muita gente interessada. Agora isso é um processo que pode demorar dois, três, quatro meses. Pode não acontecer. A gente simplesmente pode desligar os aparelhos. Então, se você me perguntar o que eu gostaria do Botafogo. No Brasil, talvez o Cuca para dirigir a equipe. De fora? Ou o Mourinho ou Guardiola ou Klopp. Esses são meus técnicos preferidos. São meus preferidos, mas para esses grandes poderem dirigir o Botafogo um dia, a gente tem que manter ele vivo na UTI.

Valentim

— Então não adianta “tira o Valentim”. O que o Valentim tem de culpa? Ele não montou esse elenco, não fez o papel ridículo no Carioca, não foi ele que foi eliminado pelo Juventude. Qual o problema dele ficar? Aliás, foi o último técnico que nos deu algum título. Todo mundo fala. 88% querem que o Valentim saia. E quem entra? Qualquer um. Põe um Abel, Mano, Adilson Batista? Põe os que levaram o Cruzeiro para essa situação ganhando 5, 10 vezes mais que o Valentim? Que isso! Querem matar o Botafogo de vez?

Críticas de Felipe Neto

— Até da torcida eu espero um pouco isso, porque a maioria dos torcedores, como eu, são irresponsáveis. São torcedores. Mas algumas pessoas mais esclarecidas, como Felipe Neto, que eu admiro. Ele falou em decepção. Decepção? Dia seguinte do Campeonato Brasileiro? O Felipe eu conheço, era favorável ao Barroca, um dos maiores ídolos dele é o Rodrigo Pimpão, tudo bem. Cada um pensa de um jeito. Mas eu não acho que você renovar com o Pimpão seja para o Botafogo. É opinião minha. Respeito a dele, ele tem que respeitar a minha.

— A torcida me conhece, sabe que sou transparente. Pode ter gente que ame como eu, mas mais do que eu vai ser difícil. Quero o melhor para o Botafogo e, por enquanto, o melhor é mantê-lo vivo por aparelhos até chegar alguém que possa tratar o Botafogo com dignidade e com a força que ele merece. Agora, se alguém nessa transição, vier com grana, nomes, planejamento, eu garanto: a gente sai no ato. Na mesma hora!

Cômite de transição

— Eu detesto estar fazendo o que estou fazendo. Eu só me aproximo do Botafogo quando o Clube está com milhões de prejuízo. Quando o Botafogo está bem, ninguém chama o Montenegro, todo mundo me esquece. E é assim que deve ser. Por isso que eu quero os investidores, mudar isso. Para acabar com esse amadorismo, de pessoas não respeitarem contrato. O nosso critério é manter o Botafogo vivo, monitorando os aparelhos. Todos jogadores que têm contrato vencendo em 31 de dezembro vão embora. A gente vai começar fazendo a renovação passando a folha de 3 milhões para um milhão. Pelo ano, por tudo que aconteceu, ninguém merece bônus. Ninguém se sobressaiu. Todo mundo teve o trabalho questionado. Houve dedicação, mas tudo ficou muito aquém do que o Botafogo merece. Isso é pé no chão e responsabilidade neste momento. Eu prefiro estar nessa situação hoje do que na do Cruzeiro, com uma folha de 18 milhões por mês. Faltou dinheiro. Aqui, a gente ajudou o máximo que pudemos. O Cláudio Good ajudou muito. Eu fiz o possível. Estamos sobrevivendo. Eu tenho rezado todo dia por aquele ser que está ali moribundo na máquina.

Pedido à torcida

— Ou a torcida e os críticos nos ajudam, inclusive com paciência, até chegar o investidor, ou não. Quem está lá é para manter o clube vivo. Se eu pudesse, o Botafogo não participaria de nenhuma competição. Não tem dinheiro. Vai participar como? Mas isso não pode. Então a gente tem que participar mantendo o clube vivo. Entendam que de domingo até hoje só piorou a situação. O atraso aumentou. Não tem perspectiva nenhuma. E você vê crítica, o pessoal desolado. E o pessoal “poxa, não mudou nada”. Como se a gente estivesse na ilha da fantasia. Está todo mundo querendo o bom sem fazer nada. Eu só peço o seguinte: respeitem os médicos que estão tentando manter o Botafogo vivo ou tragam uma outra solução. Agora, com dinheiro. Os clubes estão todos quebrados, com exceção de Flamengo e Palmeiras.

— É importante as pessoas entenderem: o elenco, o Anderson Barros, podem não ser pessoas do sonho de ninguém. Mas você tem que trabalhar com a realidade. Pé no chão. Acho que a gente está se dedicando. As críticas entram por um ouvido e saem pelo outro. Porque precisamos de solução.

Ouça a entrevista na íntegra

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Sobre Diego Mesquita 1556 Artigos
Botafoguense, 36 anos. Formado em Jornalismo pela FACHA (RJ), trabalhou como assessor de imprensa do Botafogo F.R em 2010. Hoje, é setorista independente.

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