Análise: O espaço exclusivo para mulheres no Nilton Santos é a solução?

Loja Casual FC
Botafogo espaço mulheres
Mayra Baptista*

O Botafogo anunciou nesta semana a ideia, em conjunto com o governo do Estado, da implementação de um espaço exclusivo para as mulheres no estádio Nilton Santos, e a primeira coisa que me veio à mente foi: isso não está certo!

Apesar de parecer algo muito efetivo, é necessário pensar sobre a raiz do problema e em como afastar homens de mulheres só corrobora, ainda mais, com o machismo presente nas arquibancadas.

Sim, eu sei que não é uma medida obrigatória e que a mulher poderá escolher o setor, como sempre foi. Mas o meu ponto aqui é o seguinte: era mesmo necessário haver um lugar para que pudéssemos nos sentir seguras dentro da nossa própria casa? Não seria mais funcional, por exemplo, uma área exclusiva de denúncia contra o assédio dentro do estádio — harmonizando, inclusive, com a ideia do “Botão do Pânico” super bem implementada no Bahia (e que também está sendo pensada aqui no Botafogo)?

Passo importante, mas…

Vejam, não estou dizendo que não seja um passo importante — afinal, finalmente estamos falando sobre a segurança da mulher no estádio. Entretanto, se faz necessário pensar, hoje, em soluções. Não em medidas paliativas que tenham tendência a ficar para sempre no estádio, sem que o Estado tome providências mais efetivas perante os casos, futuramente.

Além disso, uma área exclusivamente feminina pode servir de munição aos assediadores que cometerem o crime no setor “misto”. Nele, podem alegar às vítimas que se querem proteção, que fiquem em sua determinada área. Parece absurdo, eu sei, mas é muito previsível que isso ocorra, infelizmente.

Sabemos que não há como o clube agradar a todos. Mas, nesse caso, vale pensar em várias questões que colocam em declínio que esse espaço seria uma das formas de combate ao assédio. Por exemplo: fora da área exclusiva haverá segurança para as mulheres ou o único meio de se sentir segura será o setor específico? Haverá fiscalização na área para evitar a presença de homens naquele ponto? O assediador, na área “mista”, poderá ser denunciado, e a segurança presente acatará a denúncia feita?

Como mulher, obviamente, que eu também me sentiria mais segura numa área exclusiva, por isso entendo aquelas que ficaram aliviadas com a medida. Porém, como torcedora assídua, afirmo que deveria me sentir assim em qualquer setor e, dessa forma, ser respeitada como todo ser humano merece ser.

Naturalização do absurdo

Com um setor exclusivo, só afirmamos que os assediadores não conseguem controlar seus impulsos e que isso é naturalizado, diariamente, com o afastamento de mulheres, as quais são postas à margem para que crimes não aconteçam. Isso não é um tanto quanto ilógico? Os assediadores deveriam sentir-se intimidados, não acomodados.

Dito isto, me encaminho ao fim desse texto compartilhando o fato de que eu e o diretor de negócios do Botafogo, Lênin Franco, conversamos brevemente sobre a nova medida. De acordo com o diretor, em breve haverá comunicação com a torcida feminina, assim que novos projetos forem concretizados.

Sou grata por essa ponte com o clube. Mas ficarei aguardando esse momento, pressionando a mesma tecla. Independentemente de ser uma ação em conjunto com o governo, esse tipo de assunto precisa ser debatido com seriedade e levando em consideração a opinião de quem mais importa nesse caso: nós, mulheres.

Mayra Baptista: Professora, Mestranda UFF e torcedora do Botafogo do Rio de Janeiro/RJ.


*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Fogo na Rede.

Comentários

Sobre Redação 6015 Artigos
Fogo na Rede é um veículo profissional especializado na cobertura do Botafogo: últimas notícias, jogos e muito mais!